terça-feira, setembro 7

janela

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ao sair de sua sala climatizada e impessoal, respirava fundo o ar poluído e decadente do centro da cidade e recriava os lugares soprados por sua memória afetada e pueril. se a beleza está nos olhos de quem vê, a decadência se encontra impregnada no corpo de quem a exala. sendo assim, criava expectativas sobre a noite que estava por vir e lançava seu corpo ao idealizado encontro com as questões do mundo. o dia seguinte não esperaria, o tempo não dá trégua.

a vida é rio que corre em desatino e a emergência da novidade e da descoberta alimenta seu personagem e ressignifica necessidades. novos lugares, novos ares e novas pessoas; um passeio frenético e introspectivo. esperava descobrir algo novo sobre aquilo que já conhecia. para essa empreitada, treinara os seus sentidos desde onde sua mais remota memória pode vislumbrar. os olhos, apesar de pequeninos, são sua janela para o mundo: desbrava o universo, que é o outro, e alimenta sua alma.

sim. é a alma do negócio. e quando consegue estabelecer conexões, sofre e se alegra simultaneamente. e quando sonha se reporta ao tato e ao paladar; e quando acorda permite que experiências surrealistas tomem conta de seu corpo e corre em busca daquilo que ainda não vislumbra ao fim do caminho. porque o fim é o começo e porque as imagens, mais que eternas, são fugazes.


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sexta-feira, setembro 3

espraiamento

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soube, por acaso, que quando tentava escrever se jogava porta afora, adentrando o mundo. ser externo.

do editor de textos surgiam palavras de becos; do olho da rua, do furacão, de paixão e desassossego.

nos mantras entoados, a distração resguardava o medo do arrependimento e lançava pelas frestas da memória um aroma pueril e nostálgico.

ser extremo, dilatado e descamisado: invasor de terrenos e destruidor de porteiras.

e ainda assim, ensimesmado.


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