terça-feira, outubro 12

manifesto antiarrefecimeto

.


em poucas horas meu pensamento gira 360º em torno da terra, dá várias voltas pelos confins do mundo e retorna a um lugar inventado. universo meu. teu. em expansão. de difícil explicação, de impossível gestão.

micro-experiências dão lugar a uma milenar carga histórico-filosófica; então compartilhe comigo suas incoerências, que te ofereço meus equívocos. nômades numa estrada fluida, passeando pelos vácuos do cotidiano. superfície esburacada que incorpora inconstâncias, realidades outras. existência dilatada que emite um sincrético passaporte para o país do mistério, que é o ser. sobretudo engole minhas mãos e faz delas um arauto, correio da delicadeza e do prazer.

compartilhar paisagens faz derramar sentidos; sutilmente cresce o assombro dentro de mim..


.

terça-feira, setembro 7

janela

.


ao sair de sua sala climatizada e impessoal, respirava fundo o ar poluído e decadente do centro da cidade e recriava os lugares soprados por sua memória afetada e pueril. se a beleza está nos olhos de quem vê, a decadência se encontra impregnada no corpo de quem a exala. sendo assim, criava expectativas sobre a noite que estava por vir e lançava seu corpo ao idealizado encontro com as questões do mundo. o dia seguinte não esperaria, o tempo não dá trégua.

a vida é rio que corre em desatino e a emergência da novidade e da descoberta alimenta seu personagem e ressignifica necessidades. novos lugares, novos ares e novas pessoas; um passeio frenético e introspectivo. esperava descobrir algo novo sobre aquilo que já conhecia. para essa empreitada, treinara os seus sentidos desde onde sua mais remota memória pode vislumbrar. os olhos, apesar de pequeninos, são sua janela para o mundo: desbrava o universo, que é o outro, e alimenta sua alma.

sim. é a alma do negócio. e quando consegue estabelecer conexões, sofre e se alegra simultaneamente. e quando sonha se reporta ao tato e ao paladar; e quando acorda permite que experiências surrealistas tomem conta de seu corpo e corre em busca daquilo que ainda não vislumbra ao fim do caminho. porque o fim é o começo e porque as imagens, mais que eternas, são fugazes.


.

sexta-feira, setembro 3

espraiamento

.


soube, por acaso, que quando tentava escrever se jogava porta afora, adentrando o mundo. ser externo.

do editor de textos surgiam palavras de becos; do olho da rua, do furacão, de paixão e desassossego.

nos mantras entoados, a distração resguardava o medo do arrependimento e lançava pelas frestas da memória um aroma pueril e nostálgico.

ser extremo, dilatado e descamisado: invasor de terrenos e destruidor de porteiras.

e ainda assim, ensimesmado.


..

sexta-feira, agosto 27

a espreita na noite clara lua na rua de ladrilhos ao som distante e distoante, quase que não se escuta a música e todo o resto dos sons. o resto. quase que caio e quase que sou: metade de um todo incompleto. estadias habituais em estado de árvore. fruição de um corpo máquina ambulante-ambulância de si. Na ruela, por vezes cinza e outrora aquarela, o entrelaçar de corpos escreve a história de não ser e tornar-se líquido límpido. em água-clara enlameada, edificamos os tijolos da breve estada dos prazeres: aleatórias paisagens e interfaces instantâneas.

segunda-feira, julho 5

de sobressalto

.

cama . festa

sempre . algo mais

descobr.e.ssências

partituras . lascívias



.

poeminha ou gracejo de junção

.

febril

.

e faz de conta que naquele dia de chuva torrencial, você não me deixou a ver barquinhos de papel na calçada da casa de tijolos rústicos. uma piscadela e pronto, nada mais restava entre o meu peito nu e a tua muralha de insensatez.

iluminando as vertentes do trôpego caminho de sol a pino, as dezesseis luas de júpiter zombam dos teus trejeitos mais elementares e indiscutivelmente humanos.

nascidos do barro e da costela, os sentimentos confluem sempre para a mesma direção, a do desencontro alumiado por incertezas. deu febre, foi ardente; marca indelével da memória aquecida pelo esquecimento. a todo vapor..

na rua de sempre, tudo difere.

.

terça-feira, junho 8

a noite 1/2

.

tenho vontade de escrever um livro.

seria o livro das pessoas doces e bonitas, dos aquarianos. não seria um romance. o recheio teria sabor de contos, crônicas e poemas, assim seriam consumidos em doses homeopáticas. como um livro de cabeceira, a ser lido antes de dormir; ou como um livro de viagens, companheiro de andanças, parceiro e encorajador. queria, também, que ele espantasse a dor, caso você tropeçasse pelo meio do caminho.

nele, não faltariam sonhos. mas não seriam somente aqueles que se assemelham a esperanças vãs... eles seriam palpáveis, lúdicos e nos remeteriam às estratégias e às possibilidades.

também seria um livro de busca, de pulsão-pulsação-fruição. um livro de não-saber, e que por isso mesmo, possibilitaria a procura, a criação e a união.

em suas páginas amareladas ecoaria um jardim musicado, de arte e hortaliças. seria um emaranhado de escritos que nos permitiriam viajar, tanto mentalmente quanto fisicamente, no sentido mais literal de ambos.

seria um roteiro literário, que um dia, poderia vir a se transformar em um vídeo-poema. correria o mundo, desencapado, permitindo-se à vida, às intempéries e ao gozo.

um diário de bordo.

uma bússola.

um documento fantástico.

um mundo m[t]eu.

.

sexta-feira, junho 4

.

Um olhar impiedoso lançado contra aquele que evidentemente nunca te fará mal e que provavelmente nunca te deixará na mão. Tão ensurdecedora é a macabra sinfonia da indiferença, que as ideias ficam desbaratadas e o manual de procedimentos se transforma em apenas mais um estorvo.

Sentimentos que se deixam escapar nos olhares lúgubres, com leves tons de reprovação, transformam a ciranda, outrora alegre e colorida, em um circo freak e perverso. O tom da tua pele queimada pelo sol deixa transparecer que Balzac se apossara de teu corpo assim, sem muitos estardalhaços. Porém, os olhos cansados do caminho à médio prazo, denunciam a estirpe dos eternos jovens adultos solitários.

Longe de deter a lendária auto-confiança alardeada por aí aos quatro ventos desde o início dos tempos, toma atitudes mesquinhas e beijadas pelos sutis lábios da emulação. Faz do seu mundo, já duro em sua essência frívola, um pântano de sentimentos toscos enlameados de insensatez.

Ouça: passos de dança podem [e devem] ser compartilhados com pessoas especiais. No entanto, mais importante que agraciar estranhos com graça e delicadeza, é preservar o que foi ladrilhado com esmero e encoberto pela cuidadosa superfície da diligência.

Hoje, tenho um rosto enrubescido pelo tom do esquecimento.

..

terça-feira, maio 25

êxodo

.

pronto.

agora sinto tudo essencialmente inacabado.

meu quarto e sala anda apertado, nele não cabe mais o móvel que bombeia o fluxo.

mais embaixo, no hall, faz um frio que se aquece com as voltas dos vaga-lumes que teimam.

o cintilante tom da distância é secundário, pois descobertas de novos mundos sempre causaram revoluções.

sinto a terra em transe sob meus pés cansados de caminhar contra a corrente, e permito-me atingir um meio de caminho.

encontro-te circunstancialmente em minha memória olfativa, tendo a gélida incerteza da presença material.

nesses casos, a matéria pode ser momentaneamente secundária. se tiveres a certeza da fome compartilhada, o banquete será a condição irrevogável.

toma minha pequena persona e cria felizes rearranjos soprados em uma mesma direção. necessariamente àquela que leva ao encontro, sua especialidade.

certo como dois e dois são cinco, me lanço em tua direção.

.

quarta-feira, maio 19

do lago

sentir-se só sem ser..
toda a ausência causa caláfrios que aquecem a necessidade do calor compartilhado na banheira vazia e fazem o grande vão parecer eternamente desabitado.

a aurora faz pessoas tão iguais parecerem sombras ensimesmadas.
sentir-se preso num emaranhado de pesoas prontas,
engendra uma realista prece de ateus santificados.
olho os carros no vem-e-vai eloquente e miro um futuro palpável como pinturas rupestres.

a carne mal cozida e desidratada do rosto enrubescido,
lança o peso de uma puberdade leviana sufocada
e faz emergir sonhos fúnebres roubados de si mesmo.

assim, alista-se no exercícito do tempo mal vivido e faz os pequenos meandros da relva interna ganharem a superfície.
tão meus são os seus medos, que torno-me acidentalmente a irrevogável causa deles.

sexta-feira, maio 7

.

carícias de flores nos corpos descansados na frondosa varanda. cheiro de café com leite às oito da matina, desperta o olfato para um dia de leituras e bordados. aos domingos, acordo cedo para ouvir as canções que você fez pra mim. à noite, com os óculos na ponta do nariz, olho para o fundo do corredor escuro e repleto de quadros com fotografias daquele que será sempre o meu fotógrafo preferido e penso que o futuro é aqui. agora.
o limão colhido no quintal nos mima suavemente com o melhor suco que já bebemos e que faço pra ti com tanto querer bem, e fica doce mesmo sem o açúcar mascavo, aquele que tanto gostas. uma ode aos documentos perdidos, esquecidos e amarelados pelo tempo que não perdoa, suga o viço e coalha a carne, tornado-a viscosa.
no fim da semana, iremos às compras. geléias, deliciosos e tenros biscoitos, queijos e vinhos. ah.. esses serão secamente consumidos no vão aconchegante, acompanhados por um bom filme, os realizados pelos nossos diretores preferidos e os que nós fizemos (exceto aquele, de que gosto tanto e que você considera piegas demais). lembra da péssima luz naquele dia? como esquecer?! Aquela luz corroborou a imagem maculada que carregaremos por toda a caminhada de vida, desde o fatídico dia de encontro às portas de um café pequeno-burguês freqüentado por gente insossa.
a imagem transfigurada da viagem sem volta..

sexta-feira, abril 16

a nudez das coisas

.

a fala fragmentada sopra delicadezas viris, coisa de quem tem aquele não-sei-quê-especial.

ainda inerte no lugar onde escolhi para ficar durante três horas ininterruptas, ouço-sinto um tilintar exalando dizeres para-todos [em certos momentos ecoa endereçado, pois aventuras antropológicas se fazem em qualquer lugar..]

naquela hora, todas as minhas certezas, tão sólidas quanto a neve que nunca vi, derretem-se. coisa de quem se deixa fluir um tanto demais. penso: "tome tento, moça! seu refúgio e seus livros são um caminho certo para a sensatez."

nunca foi o meu forte, a sensatez. sendo assim, me jogo do 15° andar e sinto um turbilhão híbrido rasgando a 360km/h o meu peito nu.

o olho humano também é nu. apasar das lentes de correção, há um invísivel e infinito escarcéu de seres inanimados e impressões corriqueiras que nunca saberemos se são reais ou não.

"menina, se não pensamos nelas, simplesmente não existem!" e a recíproca também é verdadeira.

olho a lua imagética num espelho cristalino e sussurro internamente: "deviam ser meus, os olhares fortuitos cuspidos em vão por aí.."

então, me encontre lá.

.

segunda-feira, abril 12

atenção.flutuante

cheiro de café + leitura secreta de olhares resultam em divergências de linguagem. entre-linhas e cigarros, o realce de um iluminado caminho se transforma em [con]fusão de labirintos. soprando convites à transposição de imagens em espelhos d’ água, ritos e mitos sugerem um solstício singelo e rejuvenescedor. a película envolve assimetricamente a pele desejante. assim, debutaremos 72 horas sob complexo desenvolvimento de seqüências: vibrante documento de fantasias realistas.

segunda-feira, abril 5

lição de casa

.

na sala fria e rarefeita de olhares,
o cabra é marcado para enternecer..
.
vomite os seus segredos, não engavete os seus sentidos.
desenvoltura e perspicácia configuram um pião giratório.
.
façamos, então, um plano que não permaneça apenas no plano das ideias.
venha! e mostre-me que podemos ser mais que criaturas contemplativas.
.
necessidade física transfigurada em imagens,
sensação debutacional inexistente aos quinze.
.
lindeza e doçura e lábios e voz e atos fatidicamente vexatórios.
voz doce, mesmo falando salgado.
.
o suor é água de beber até a última gota,
todos os fluidos possíveis..
.
e criemos outros mais, já que tenho sede insaciável.
tente: arranque-nos desse mar de morbidez.
.
tu sabes? eu sei.
montemos juntos um quebra-cabeça..

.

sábado, abril 3

fluidez

corro. e grito ao mundo que não há satisfação alguma em sentir-se plena. dê-me a mão. venha! corra comigo e grite também . corpos fluidos num tempo-espaço especialmente relativo. opiniões, gestos e sussurros comedidos não têm vez. necessito de um exagero descomunal e mítico. navalha afiadíssima perfurando cada milímetro da carne essencialmente lasciva e [por que não?] vulgar. nada de discrição: observe como se faz e ajoelhe-se. Não significa prece ou imitação. Apenas feche os olhos e sinta. não chore.

reminiscências

danço enquanto o corpo enlutado respinga gotículas de sonhos plastificados e devidamente compartimentados em caixotes de vento. não sei o que quero tampouco o que não quero. chuva e maresia me cortam a garganta. gilete? talvez pelas melancólico-bucólicas ruas de um certo ponto g. existe? oh, cientistas de todas as nacionalidades e especialidades não foram capazes de decifrar. ninguém melhor do que você: complicação personificada em sinônimo de defasagem intelectual. não se sabe o caminho, ele não existe: pulula em um jardim de inverno de coisas criadas e ponto [g?]

quinta-feira, janeiro 7

alumiando caminhos


numa tarde daquelas em que o sol puxa os cabelos das meninas fazendo-as dedilhar o vento sorrateiramente, a maior delas leva a pequena raio de sol a uma bela paisagem da cidade cinzenta-solar-ventania e lhe mostra as belezuras do fazer-escrever poético. poética dos manuéis. manuel é um nome bem bonito, bem que poderia ser manual... só que tem de ter liberdade para beber as palavras embutidas em nuvens, lagartas, paralelepípedos, gizes, cheiros de mato e leveza [por vezes, dureza nessa vida]. sensação estranha essa, de querer mostrar a uma criatura o que há de mais vertiginoso e desimportante no mundo...