terça-feira, junho 8

a noite 1/2

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tenho vontade de escrever um livro.

seria o livro das pessoas doces e bonitas, dos aquarianos. não seria um romance. o recheio teria sabor de contos, crônicas e poemas, assim seriam consumidos em doses homeopáticas. como um livro de cabeceira, a ser lido antes de dormir; ou como um livro de viagens, companheiro de andanças, parceiro e encorajador. queria, também, que ele espantasse a dor, caso você tropeçasse pelo meio do caminho.

nele, não faltariam sonhos. mas não seriam somente aqueles que se assemelham a esperanças vãs... eles seriam palpáveis, lúdicos e nos remeteriam às estratégias e às possibilidades.

também seria um livro de busca, de pulsão-pulsação-fruição. um livro de não-saber, e que por isso mesmo, possibilitaria a procura, a criação e a união.

em suas páginas amareladas ecoaria um jardim musicado, de arte e hortaliças. seria um emaranhado de escritos que nos permitiriam viajar, tanto mentalmente quanto fisicamente, no sentido mais literal de ambos.

seria um roteiro literário, que um dia, poderia vir a se transformar em um vídeo-poema. correria o mundo, desencapado, permitindo-se à vida, às intempéries e ao gozo.

um diário de bordo.

uma bússola.

um documento fantástico.

um mundo m[t]eu.

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sexta-feira, junho 4

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Um olhar impiedoso lançado contra aquele que evidentemente nunca te fará mal e que provavelmente nunca te deixará na mão. Tão ensurdecedora é a macabra sinfonia da indiferença, que as ideias ficam desbaratadas e o manual de procedimentos se transforma em apenas mais um estorvo.

Sentimentos que se deixam escapar nos olhares lúgubres, com leves tons de reprovação, transformam a ciranda, outrora alegre e colorida, em um circo freak e perverso. O tom da tua pele queimada pelo sol deixa transparecer que Balzac se apossara de teu corpo assim, sem muitos estardalhaços. Porém, os olhos cansados do caminho à médio prazo, denunciam a estirpe dos eternos jovens adultos solitários.

Longe de deter a lendária auto-confiança alardeada por aí aos quatro ventos desde o início dos tempos, toma atitudes mesquinhas e beijadas pelos sutis lábios da emulação. Faz do seu mundo, já duro em sua essência frívola, um pântano de sentimentos toscos enlameados de insensatez.

Ouça: passos de dança podem [e devem] ser compartilhados com pessoas especiais. No entanto, mais importante que agraciar estranhos com graça e delicadeza, é preservar o que foi ladrilhado com esmero e encoberto pela cuidadosa superfície da diligência.

Hoje, tenho um rosto enrubescido pelo tom do esquecimento.

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